domingo, 22 de agosto de 2010

Uma mulher das cavernas no século XXI

Voltando pra casa, depois de uma manhã na pós de minhas irmãs, assunto: Libras, me senti uma completa estrangeira, aquelas pessoas todas gesticulando, conversando, no começo achei tudo uma graça. Parecia que eu havia voltado na época em que não se havia a fala, tudo era gesticulado e os sons eram grunhidos estranhos, eu era uma cientista, e eles, minhas cobaias. Enquanto os ponteiros do relógio giravam, minha cabeça valsava naquela pequena sala. Enquanto muitos em casa cuidavam de suas vidas, apenas de suas vidas, sem se importar com o próximo, cerca de 30 pessoas em um cômodo estudavam libras, tentavam aprender esta língua pouco valorizada. Alguém perguntou pra quê estudar libras, eu imediatamente pensei: Para poder falar com os alunos surdos. Ah esta era fácil, mas não era, outra pessoas logo respondeu que não era apenas para se comunicar com os alunos, mas com todas as pessoas; ela havia lido meus pensamentos. O professor daquela aula era surdo, enquanto muitos conversavam ao seu redor, ele nada ouvia, mas estava lá atento a tudo o que acontecia, seus olhos cuidavam de cada movimento, e brilhavam ao ver os acertos de seus alunos, e irradiavam tamanha alegria por perceber que ali ele não era um estranho, ali não existia aquela palavra amarga: preconceito. A graça para mim acabou, eu não era mais o cientista e os outros os homens das cavernas, os papéis haviam se invertido, eu era uma ogra, como em pleno século XXI não saber libras, mesmo tendo casos em minha família de surdez? Como até então eu só pensava em meu pequeno umbigo e esquecia do próximo, tão próximo que chegava doer. Não, não, não dá para aceitar que raríssimas vezes eu tenha cogitado fazer um curso de Libras, planos tão futuros e problemas tão presente! Eu vou fazer a minha parte, vou me incluir, não incluir a eles, excluídos somos  nós. Somos individualistas e egocêntricos. 

Um comentário:

  1. Eu tentei fazer os gestos, mas é dificil, haha!
    Você está com toda a razão, excluídos somos nós! Tenho uma tia surda e simplesmente deixo de falar com ela porque não há comunicação... E tem um pouco de preconceito também, né

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