Nas minhas brincadeiras você sempre estava lá; nas minhas tardes e manhãs na escola; sentadas nos banquinhos de nossas casas fofocando; você foi por muito tempo meu diário e eu o seu. Passar pelas mesmas ruas e não ouvir seus gritos a me chamar para brincar; contar dos romances e decepções; pra brincar de gato-mia em minha casa; pra posarmos uma na casa da outra; fazer exercícios e se machucar; passar a tarde juntas; comer brigadeiro ou fazer catchup; pra fazer salgadinhos; rir e chorar. Meu primeiro amor, meu primeiro beijo, minhas mudanças de fases, foi pra você que eu corri pra contar, a recíproca foi verdadeira.
Crescemos, as nossas opiniões já não eram mais as mesmas, gostos, posições, partimos para rumos diferentes, às vezes, sempre, brigávamos, não por nos odiarmos, mas por nos querermos tão bem, e só o melhor para a outra que divergíamos frequentemente, mas no final estávamos juntas outra vez. Amizade verdadeira, amor de amigas-irmãs não morre, sofre com a perversidade do tempo, mas as mudanças apenas embelezavam e fortaleciam ainda mais aquilo que é inabalável.
Uma briga, um sorvete de melancia em uma manhã de quarta-feira, fizemos as pazes. A última vez que te vi foi quando você cruzou a rua em direção a sua casa e eu segui para o meu lar. Ver-te novamente na sexta-feira naquele estado... a pior visão que já tive. Não foi fácil, a cada ano a dor cresce e o segundo semestre do ano é sempre terrível para mim, volto a reviver cada segundo, a dor me consome, a garganta impede qualquer passagem de som, meus braços ardem, minhas pernas travam, sou incapaz de sair da inércia.
Momentos de agonia são frequentes, mas devo seguir, pois sei que estas melhor do que eu, no melhor lugar que existe, onde um dia estarei também. Enquanto isso rezo por você, por nós que ficamos e sentimos a imensurável falta que fazes em nossas vida. Dois meses me separam daquilo que chamo de "A GRANDE INÉRCIA". Ainda não consigo visitar aquele lugar, mas permaneço orando daqui, um dia eu vou, um dia eu supero, não a falta que você faz, nem a dor que me acompanha nas tardes, mas a sensação de impotência perante os caminhos do destino, e, ausência da sua voz e seus abraços.